Curso de Extensão Quadrinhos e Artes Sequenciais

Registros da produção em quadrinhos realizadas por um grupo de 19 alunos do Curso de Extensão Quadrinhos e Artes Sequenciais ministrado por Paula Mastroberti, artista gráfica e escritora, professora do Instituto de Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Os trabalhos são desenvolvidos a partir da leitura da obra Através do Espelho e o que Alice encontrou por lá (Through the looking glass and what Alice found there), de Lewis Carroll. Nosso objetivo: promover e divulgar os processos e a publicação coletiva de uma narrativa gráfica em recriação livre.

Os artistas procurando Alice: Pablo Sanches

Pablo Sanches é aluno do Curso de Licenciatura em Artes Visuais e professor da Estúdio Porto Artes, onde dá aulas de desenho. Inicialmente, seu conceito de Alice estava mais preso às influências da estética ciberpunk:


A partir das atividades desenvolvidas no Curso de Extensão, Pablo foi desenvolvendo novas ideias, como este novo concept produzido já para o projeto final em parceria com Jeferson Jacques:


Por fim, a Alice afrodescendente de Pablo assumiu a seguinte configuração:








Os artistas procurando Alice: Natalia Ribacki

Natalia Ribacki é estudante do Curso de Licenciatura em Artes Visuais da UFRGS e tem um interesse especial por bonecas articuladas, o que influenciou seus primeiros estudos para Alice, trabalhados em recorte de papeis diversos:

  

Para a finalização, entretanto, optou por traçar a personagem, trazendo os recortes para a produção dos cenários.


Mais sobre Natalia Ribacki, aqui.http://ribackin.wix.com/ribacki


Os artistas procurando Alice: Mariana Bede

Mariana Bede é estudante do Curso Bacharelado em Artes Visuais na UFRGS.
Em seus estudos de Alice, Mariana previu, desde o início, uma menina de olhar vivo e esperto. De um rosto realista, ela chegou a estas configurações:


O estilo da garota também foi uma de suas preocupações:


Para Mariana, o desenvolvimento da expressão facial e corporal é importante na construção da personagem:





Os artistas procurando Alice: Marcos Miller

Marcos Miller estuda Licenciatura em Artes Visuais no Instituto de Artes da UFRGS e já atua como ilustrador, trabalhando com técnicas digitais. Entre suas primeiras ideias para Alice, temos este estudo em aquarela:


Para uma das atividades do curso, Marcos desenvolveu essa página, mostrando uma Alice mais madura:


Entre outros personagens, também desenvolveu esboços interessantes para Humpty Dumpty, o Leão e Haigha, estes últimos para o Capítulo 7, O Leão e o Unicórnio, que está recriando em parceria com Ellen Costa.


Mais sobre Marcos Miller, aqui.


Os artistas procurando Alice: José Borba

José Borba é formado em Comunicação na Fabico/UFRGS.  Sua figura de Alice sofreu várias transformações:


Desenhos à grafite do diário de José Borba.

Posteriormente, na tira produzida para uma das atividades do Curso de Extensão, temos uma proposta bem humorada para o capítulo 9, Rainha Alice:


Por fim, temos entre seus estudos expressivos da personagem para a produção final:

 




Os artistas procurando Alice: Jeferson Jacques

Jeferson Jacques é professor de Língua Portuguesa, mas também apresenta habilidade para o desenho. Durante o curso, desenvolveu, além de textos criativos, algumas artes a partir das atividades propostas, como esta página em que uma certa Alice (a partir do conceito de Pablo Sanches) encontra um certo Cavaleiro Branco em espaço contemporâneo:

Abaixo temos uma tira produzida a partir da proposta de recriação do Capítulo 9: Rainha Alice:


Para a atividade de interpretação de um auto-retrato como um personagem da obra Alice através do espelho, Jeferson escolheu Humpty Dumpty: 






Os artistas procurando Alice: Gustavo Souza

Gustavo Souza é escultor formado no Instituto de Artes da UFRGS, além de ilustrador. Seus rascunhos iniciais para Alice, desenvolvidos em seu diário de produção, apresentam-se influenciados pela cultura geek, como este "gato de cheshire":



Para uma das atividades desenvolvidas no curso, Gustavo criou essa página, localizando Alice na Esquina Democrática, em pleno centro histórico da cidade de Porto Alegre, lugar bastante conhecido por seus habitantes:


Para o capítulo 2, The garden of living flowers [O jardim das flores vivas], produzido em parceria com Paulo Guilherme e Giordana Dal Castel, Gustavo produziu estes esboços do Lírio-Tigre, uma das personagens-flor do jardim:



Os artistas procurando Alice: Guilherme Dressler

Guilherme Dressler é graduado em Licenciatura em Artes Visuais pela ULBRA e atua como professor. As referências para o Universo Alice foram buscadas em uma cultura gráfica diversificada: moda, concept art, pintura e ilustração compuseram o seu mosaico visual, em estilos que variam do japonês ao steampunk, realizadas em técnicas diversas, pintura, silhuetas, recortes e outros.

Entre os estudos de Guilherme em seu diário de produção, temos uma Alice em silhueta realizada em nanquim:

Para a atividade desenvolvida no Curso em que Alice viria parar em Porto Alegre, Guilherme produziu esta página, usando recursos de montagem e efeitos digitais:


Um dos seus estudos finais elaborados a partir do roteiro de Bruno Dorneles mostra o amadurecimento no concept da personagem:



Os artistas procurando Alice: Guilherme Sommermeyer

Guilherme Sommermeyer  é bacharelando em Artes Visuais do Instituto de Artes da UFRGS. As referências trazidas para o projeto são muito variadas, e incluem quadrinhos ocidentais e orientais, além de pinturas e concept art.

Do seu diário gráfico, temos estudos feitos com caneta esferográfica e fita adesiva. A aplicação da caneta esferográfica é objeto de sua pesquisa de conclusão de curso:



Para uma das atividades desenvolvidas no Curso, Guilherme produziu essa página em nanquim e colagem digital, colocando Alice em um bar situado em Porto Alegre
Aqui, segue um estudo recriativo em pintura digital sobre fotografia de Guilherme para o encontro entre Alice e o Cavaleiro Branco, no capítulo 8 (It's my own invention), que está sendo desenvolvido por ele em parceria com Natália Ribacki.


Os artistas procurando Alice: Giordana Dal Castel

Giordana Dal Castel é graduanda do Curso de Licenciatura em Artes Visuais do Instituto de Artes da UFRGS. Suas referências para Alice foram buscadas no animador Hayao Miyazaki, no ilustrador Takato Yamamoto e outros artistas gráficos japoneses.
Iniciou seu processo criativo desenvolvendo uma Alice dentro de uma proposta de época, mais vitoriana, como neste desenho à nanquim:

Giordana também experimentou recursos gráficos a partir da exploração de grossas listras em preto e branco:

Sua proposta evoluiu para um conceito de Alice mais ousada e menos infantil. 




Os artistas procurando Alice: Ellen Costa

Ellen Costa frequenta o Curso de Bacharelado em Artes Visuais do Instituto de Artes da UFRGS. Para Alice, buscou inicialmente referências na moda japonesa e na fotografia, além de concepts de diversos filmes e animações, entre outros. Seu diário de produção é muito rico e, entre suas páginas, destacamos esses estudos em caneta, nanquim e colagens:


Suas concepções para Alice Através do Espelho evoluíram e para o projeto em parceria com Marcos Miller para produção do capítulo 7 da obra de Carroll, "O Leão e o Unicórnio", ela apresentou estudos como estes, ora finalizados digitalmente:
...ora ainda em seu caderno de sketches, como :








Os artistas procurando Alice: Camila Andrade

Camila Andrade é graduada no curso de Licenciatura em Artes Visuais pela UFPel. Para Alice, buscou inspiração em games como Alice Madness Returns, no design de moda de estilistas como Vivienne Westwood e Karl Lagerfeld, além das artes gráficas japonesas e ilustradores do início do século XX.

Seus primeiros conceitos para Alice refletem a influência do mangá, como esta Alice-Boy, feita em grafite:


Em seguida, Camila foi desenvolvendo um pouco mais o conceito de sua personagem, a partir do roteiro de Sérgio Ricciardi:


As duas ilustrações acima foram produzidas em nanquim e aquarela.



Os artistas procurando Alice: Bruno Dorneles

Bruno Dorneles é professor de Artes Visuais formado na UFRGS. Suas referências principais para Alice podem ser encontradas em inúmeras versões fílmicas, sejam em animações, sejam live actions. Os trabalhos desenvolvidos para o Curso de Extensão concentram-se principalmente na produção textual, cujo potencial já foi postado aqui neste blog. Contudo, ele articula muito bem texto e fotografia, como podemos ver abaixo, em sua criação em autorretrato como Humpty Dumpty:


Interessante destacar o aproveitamento criativo também de imagens pré-existentes na tira abaixo, para compor a pequena anedota poética abaixo:


Para saber mais sobre Bruno Dorneles, é preciso buscar seu perfil no Facebook.

Os artistas procurando Alice: Anna Jonko

Anna Jonko é graduada no curso Licenciatura em Artes Visuais do Instituto de Artes da UFRGS. As referências trazidas para este projeto são autores como Takako Yamamoto, Craig Thompson ou Jen Wang.
Seguem alguns de seus estudos para o Curso de Extensão e para o Projeto:


Acima, página criada em nanquim sobre papel a partir do conceito de Alice proposto pela colega Giordana Dal Castel.
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Abaixo, um estudo preliminar para a personagem Alice, em nanquim:


Por fim, um estudo mais elaborado em nanquim e aquarela, pensado a partir do argumento produzido com Alexandre de Nadal:




Os artistas procurando Alice: Aline Daka

Aline Daka é bacharel em Artes Visuais pelo Instituto de Artes da UFRGS. Suas referências para Alice são buscadas principalmente na fotografia de Lewis Carroll e demais imagens que tematizam meninas e infância. Para desenvolver o estilo quadrinístico, inspira-se, entre outros, na arte de Guido Crepax e Alberto Breccia.
Entre os trabalhos desenvolvidos para o Curso de Extensão, temos esta página criada por ela em nanquim sobre papel para o tema "E se Alice, ao atravessar o espelho, viesse parar em Porto Alegre?", em que a heroína encontra personagens da cena noturna portoalegrense:


Abaixo, o autorretrato como a Rainha-Ovelha Branca, retirado de seu diário de produção e trabalhado em grafite sobre papel. A Rainha Ovelha Branca é uma personagem que aparece no Capítulo 5 da obra de Carroll. O desenho foi produzido para a atividade "O personagem que sou eu": 


Segue uma ilustração à nanquim, produzida para seu conceito final de Alice, uma menina chinesa explorada como mão-de-obra:

Os artistas procurando Alice: Alexandre de Nadal

Alexandre De Nadal é mestrando em Poéticas Visuais no Instituto de Artes da UFRGS. Suas referências em quadrinhos são muito variadas e incluem autores como Andre Kitagawa, Eduardo Medeiros, Berliac, entre outros. Para a nossa versão de Alice, buscou inspiração em versões cinematográficas como a de Jan Svankmajer ou Nēco Z Alenky. Seguem alguns trabalhos de Alexandre, a partir de atividades desenvolvidas no Curso de Extensão:


Na página HQ cima, Alexandre desenvolveu um segmento narrativo usando desenho em nanquim sobre papel e finalização digital a partir da proposta de um conceito de Alice desenvolvido por seu colega, Gabriel Talian. A Alice de Gabriel, segundo a descrição conceitual, é uma nativa de oito anos, benevolente e inquieta, que se aventura pela floresta, portando um galho enfiado nos cabelos que deverá ter diversas utilidades. O homem branco desbravador e vingativo representa o Cavaleiro Branco, 


Por fim temos, ainda dentro das atividades propostas pelo curso de extensão, uma charge produzida com desenho finalizado com recursos digitais. Essa atividade tinha por tema "E se Alice, ao atravessar o espelho, viesse parar em Porto Alegre?". Na versão de Alexandre a heroína, uma turista já adulta, depara-se, ao caminhar pelo Centro Histórico da capital do Rio Grande do Sul, com as ciganas que circulam em frente a Prefeitura.
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Abaixo, uma ilustração digital produzida para o argumento desenvolvido em parceria com Anna Jonko:






Um encontro com Humpty Dumpty: Alice no País dos Espelhos

"Perdão aos cus" ele dizia, "mas você é uma cuzona, garota!" Desacostumada com a má linguagem do Ovo-Falante-Que-Já-Não-Se-Importava, Alice limitou-se a dilatar suas pálpebras o máximo que pode, enquanto levava a mão à boca. Debochando, o Ovo-Falante-Que-Já-Não-Se-Importava prosseguia. "A princesa conhece a palavra mas repudia o uso? Pois então escute: cu, merda, porra, caralho, boceta...""Chega!" gritava a pequena, dada aos recatos vitorianos. "Chega ou meus ouvidos explodirão!". De vez em quando, Alice olhava para ver se a boca do Ovo-Falante-Que-Já-Não-Se-Importava parara de se mexer, em silêncio, antes de tirar os dedos indicadores de dentro das orelhas."É muito irritante!", disse o Ovo-Falante-Que-Já-Não-Se-Importava*."Vem ao meu muro como se, por desventura, eu fosse obrigado a lhe bem receber!", prosseguiu o Ovo-Qu... Humpty Dumpty! "Vês o que se inscreve nos tijolos que compõe meu assento-de-ovo?" disse apontando para uma pichação em preto fosco onde se lia, em letras garrafais que escorriam pelo muro, "Boca de Esgoto". "Vê? Não sou obrigado a lhe poupar dos insultos que aprendi com a vida! Se existo para honrar um título dado à mim pelo próprio Rei, por que diabos deveria me importar se os seus ouvidos irão explodir? De fato ligo tão pouco para você que, mesmo que eles explodissem, ainda enxergaria na minha grande cara a expressão da mais prazerosa gargalhada. Daquelas que guardo para momentos específicos quando alguém que desprezo se fode e eu posso assistir!"."E por que me desprezas, se acabaste de me conhecer?", indagou Alice."Por essa tua mania de conjugar os verbos de forma correta, para começar! É muito irritante! Pedante em cada fio de cabelo!", respondia Humpty Dumpty com cara de nojo."E por que falas tantos palavrões?", rebateu Alice rapidamente, pensando que uma pergunta logo após a outra poderiam pôr fim ao repertório odioso de seu acompanhante.
Alice ia se afastando, decidida a ignorar o Ovo-Mal-Educado.
Tentando esquecer cada sentença dita por Humpty Dumpty, Alice imaginava como seria a gema da criatura. Em sua imundície, deveria sobrar qualquer resquício de educação; em algum lugar deveria se esconder um bom anfitrião. Antes de pegar a ponte que atravessava um pequeno riacho correndo para a direita, a garota notou uma placa que se virava para de onde vinha; entalhada nas ripas de madeira enegrecidas, era possível ler "Humpty Dumpty: Aquele-Que-Só-Diz-O-Que-Já-Sabemos".
"Porque é assim que minha boca gesticula quando fala com crianças de merda, como tu!", disse Humpty Dumpty, provando que o pensamento de Alice não passava de nada menos que nada.
"Não cheguei nem mesmo a falar de seus pais! Volte aqui, criaturinha ridícula!", gritou Humpty Dumpty enquanto ficava de pé. "Volte, que lhe digo quem é mesmo o corno do teu pai!"

* Para que se economize na escrita e ninguém se irrite com a leitura, abreviarei o nome "Ovo-Falante-Que-Já-Não-Se-Importava" para as siglas H.U.M.P.T.Y. D.U.M.P.T.Y, e para que se economize na escrita e ninguém se irrite com a leitura, abreviarei as siglas H.U.M.P.T.Y. D.U.M.P.T.Y. para a sua forma que demora menos a escrever e irrita menos aqueles que porventura possam ter de redigir este texto: Humpty Dumpty.


Autoria: Bruno Dorneles (Licenciado em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e Graduado em Estudos Artísticos pela Universidade de Coimbra - Portugal. Pesquisador interessado em Cinema Queer, Cinema de Animação e Documental, com ênfase na recepção e nos intertextos políticos da linguagem cinematográfica.)

Um poema: Alice no País dos Espelhos


Antes de entrar neste projeto, Sergio Vinicius Ricciardi já manifestava interesse pelo universo de Carroll, ao publicar em seu blog este poema:

Alice seguiu o coelho

Caiu na toca
Após um mergulho
No escuro
(Há na mente tanto entulho...)
Chegou a um reino
Demente
Tomou chá com o Chapeleiro
Louco
- Dois torrões de insanidade, por favor.
Ou mais um pouco...
Enfrentou uma Rainha de Copas
Decadente
(O poder corrompe absolutamente)
Foi deprimente...
Pensou ela:
"Vivemos em meio a insultos,
Ao nosso bom senso. Porque,
Justo eu, penso?
Somos mais felizes e vis
Se imbecis...".
Quis virar a página,
Trocar de livro,
Cantar uma canção...
Tudo em vão.
Do outro país, quebrou os espelhos e,
Num ansiado impulso,
Deu fim ao romance

Cortando os pulsos...

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